“Meu nome é Tiago, tenho 22 anos, e sou jornalista. Em 2018, de uma forma praticamente informal, meu nome correu pela web como o “autista que faz podcast para autistas”. Não que isso esteja completamente errado, mas é uma qualificação bastante superficial para uma trajetória de muitas nuances.
Criar podcast começou a partir de uma bagagem universitária constituída pelos serviços de assistência estudantil e, também, por uma busca individual. Fui diagnosticado com a chamada Síndrome de Asperger logo ao início da graduação, e meus melhores amigos acompanharam o processo ao longo do ano de 2014. Em abril de 2016, recebi o contato de uma psicóloga para uma conversa.
Pouco tempo depois, se iniciava uma
atividade terapêutica em grupo, de orientação psicoanalítica, que trouxe até
hoje mais de 10 estudantes de diferentes cursos e faixas etárias em torno de um
diagnóstico em comum. Compartilhamos experiências e frequentemente fugimos dos
temas ‘autísticos’ para debater assuntos diversos. E tudo isso me parecia
interessante de se aproveitar.
Em 2017, após conversar bastante com algumas pessoas e produzir materiais sobre os membros – incluindo um perfil e um radiodocumentário – decidi que deveríamos ter o tal podcast. Naquele período, existia em mim uma inquietação pelo fato da maioria dos eventos de autismo trazerem, ao máximo, especialistas e pais. E, assim, deveríamos dar nossa cara a tapa, de alguma forma.
Nossa intenção era importante
porque existia uma imensidão de temáticas relacionadas ao autismo e
universidade pouco exploradas pelos materiais de autismo na web. Entre eles, a
relação aluno-professor, os trabalhos em grupo e a produção acadêmica
relacionada ao hiperfoco. E, além de tudo, não havia nenhuma produção de mídia
coletiva de pessoas dentro do espectro desse porte no país.
Sabia dos perigos da exposição.
Entendia que, com isso, poderíamos correr o risco de não conseguirmos utilizar
o rótulo a nosso favor. No entanto, era mais interessante definirmos o nosso
espaço nessa comunidade em que pessoas diagnosticadas com autismo ainda não
recebem o protagonismo devido.
O formato do podcast é fundamental
para nós. Ao contrário do YouTube, por exemplo, que envolve recursos de imagem
e gravações curtas para vídeos eficientes, com episódios de áudio podemos
aprofundar temas e dialogar, de forma mais aproximada, com o nosso “nicho”.
Em mais de 30 episódios gravados
até agora, tivemos a oportunidade de falar sobre sensibilidade sensorial, inclusão na universidade e depressão, mas também de sofrência, telefones celulares e Queen. O elemento que nos une é, de certa
forma o diagnóstico, mas permitimos o enriquecimento o debate por meio das
nossas diferenças.
Portanto, além dos rótulos e conceitos, a forma com a qual fomos tratados permitiu que não somente fizéssemos novas relações sociais, mas também garantiu a permanência na universidade, um dos pontos fundamentais da inclusão. E o podcast Introvertendo é um dos reflexos disso.”