Autora: Carolina Tiemi Iasukawati
O brincar é uma das ocupações centrais da infância e fundamentais para o desenvolvimento global, como previsto na Declaração Universal dos Direitos da Criança (1959) ““[…] é através dos brinquedos e brincadeiras que as crianças desenvolvem suas habilidades, percepções, raciocínio, criatividade e aprendem sua relação com si mesmas e com os outros.” (AOTA, 2020; BRASIL, s/d, p. 9). Além disso, o brinquedo é portador de significados e valores culturais que revelam discursos, concepções e representações de determinada sociedade e cultura. Eles também apresentam uma historicidade, envolvendo lembranças e outros sentidos de grande representatividade nos processos de desenvolvimento do caráter dos indivíduos, funcionando como um espelho para representações de padrões, comportamentos, regras sociais e fantasias infantis (CRUZ, 2011; SOARES, 2018).
Entretanto, a existência de uma deficiência pode alterar o seu papel de brincante, seja pelas questões relacionadas ao movimento, prejudicando a exploração do ambiente e dificultando o envolvimento em atividades sensório-motoras, como também a dificuldade no desenvolvimento cognitivo, comportamental e na expressão de emoções, culminando em menos oportunidades e parceiros disponíveis para brincar (SOUZA, 2017). Apesar destas dificuldades, elas devem ser diariamente estimuladas a encontrarem sua autonomia, no qual o brincar pode ser utilizado como instrumento para que elas superem esses problemas. Além disso, De acordo com o Art. 4 e 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990), brincar é um direito humano garantido a toda e qualquer criança e adolescente (CRUZ, 2011; SOARES, 2018).
Deste modo, tanto os brinquedos quanto as brincadeiras devem ser universais, inclusivos e sempre permitir a participação de todos e, pensando nisso, recentemente o Instituto Mara Gabrilli (IMG) conhecido por elaborar projetos que contribuem para o aumento da qualidade de vida de pessoas com deficiência, lançou o Manual de Brinquedos e Brincadeiras Inclusivos para incentivar pessoas de diferentes faixas etárias a desenvolverem suas habilidades através do brincar. Ademais deste recurso, a UNICEF também publicou um manual de como incluir crianças com deficiência nas brincadeiras da escola. Estes recursos são úteis para familiares e profissionais que necessitam de orientações e ideias quanto ao brincar inclusivo.
Referências:
American Occupational Therapy Association (AOTA). Occupational therapy practice framework: domain and process fourth edition. The American Journal of Occupational Therapy. 2020; 74 (Suppl 2). DOI: https://doi.org/10.5014/ajot.2020.74S2001.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069/90. São Paulo, Atlas, 1991.
CRUZ, Michelle Brugnera. Bonecas, diversidade e inclusão: brincando com as diferenças. Rev. psicopedag., São Paulo , v. 28, n. 85, p. 41-52, 2011 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862011000100005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 18 jul. 2023.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS UNICEF. 20/11/1959. Principio VII. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/os-direitosdas-criancas-e-dos-adolescentes. Acesso em: em 18 jul. 2023.
GABRILLI, Mara. Brinquedos e Brincadeiras inclusivos. Brasília; DF: Ministério da Cultura, 2018. Disponível em: http://institutomaragabrilli.org.br/images/stories/pdf/brinquedos.pdf. Acesso em: em 18 jul. 2023
SOARES, J. L. dos S.; ALMEIDA, D. B. L. de. BRINQUEDOS COMO REPRESENTAÇÃO SOCIAL E DE GÊNERO NA INFÂNCIA: A RESSIGNIFICAÇÃO DO CONCEITO DE FAMÍLIA. Discursos Contemporâneos em Estudo, [S. l.], v. 3, n. 2, p. 19–32, 2018. DOI: 10.26512/discursos.v3i2.2018/11774. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/discursos/article/view/11774. Acesso em: 18 jul. 2023.
SOUZA, D. da S.; DE FIGUEIREDO, B. A.; DA SILVA, Ângela C. D. O brincar de crianças com deficiência física sob a perspectiva dos pais/The play of children with disabilities from the perspective of parents. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, [S. l.], v. 25, n. 2, p. 267–274, 2017. DOI: 10.4322/0104-4931.ctoAO0794. Disponível em: https://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/1467. Acesso em: 24 jul. 2023.
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância – Guia do Brincar Inclusivo. Projeto Incluir Brincando. 2012. Disponível em: http://files.unicef.org/brazil/pt/br_sesame_guia.pdf. Acesso em: 18 jul 2023.
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