O Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) será o primeiro centro de pesquisa da América do Sul a testar os efeitos terapêuticos da magnetoconvulsoterapia, nova técnica de tratamento para a depressão grave que já é estudada em instituições de Dallas e Nova York (Estados Unidos), Toronto (Canadá) e Freiburg (Alemanha). A magnetoconvulsoterapia usa campos eletromagnéticos e é destinada a pacientes que não apresentam uma resposta adequada ao tratamento com medicamentos e outras terapias, apresentando menos efeitos colaterais que o método tradicional, a eletroconvulsoterapia (ECT), feita com corrente elétrica. Os testes com o novo tratamento terão início em março de 2021.
A pesquisa é coordenada pelos pesquisadores André Brunoni e José Gallucci Neto. “O objetivo é comparar a nova técnica com a ECT, que consiste em tratar a depressão grave, usando corrente elétrica para induzir crises convulsivas”, conta Brunoni. Atualmente, a ECT ainda é o tratamento mais eficaz e de ação rápida para a depressão grave, que é um dos transtornos psiquiátricos mais associados ao suicídio. “Entretanto, essa técnica tem efeitos colaterais, como déficit cognitivo e perda de memória.”
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O pesquisador explica que a magnetoconvulsoterapia também induz a crises convulsivas, mas por meio de um campo eletromagnético muito forte. “A ação desse campo leva a uma despolarização do cérebro, o que causa a crise convulsiva”, descreve. O equipamento que produz o campo magnético, semelhante ao aparelho usado para estimulação magnética transcraniana, funciona por meio de duas bobinas magnéticas especiais, em forma de cone. “A vantagem da nova técnica em relação à ECT, é que ela provoca menos efeitos colaterais, como perda de memoria. Ao contrário, a magnetoconvulsoterapia é mais moderna, sem choques elétricos e os pacientes recuperam sua orientação mais rapidamente”, diz o médico, ao ressaltar que é importante reduzir o estigma deste tipo de tratamento.
Brunoni informa que o tratamento será oferecido gratuitamente. “Serão recrutados cem pacientes com depressão grave, refratários ao tratamento com medicamentos”, planeja Brunoni. “Metade deles será submetida à ECT e os outros 50 serão tratados com a nova técnica.” Em breve, numa data a ser definida, serão abertas triagens para pacientes com diagnóstico de depressão grave, que queiram participar do estudo.
Ao todo, os pacientes farão de seis a doze sessões de tratamento. “Ao final das sessões, será verificada qual foi a melhora clínica obtida com cada uma das técnicas quanto à depressão, além dos efeitos cognitivos e na memória”, descreve o pesquisador. O procedimento será realizado por equipe médica treinada e capacitada, em um ambiente seguro, oferecendo conforto ao paciente, que será anestesiado. “Espera-se que a melhora na depressão seja similar, mas com menor perda de memória na magnetoconvulsoterapia.”
O pesquisador aponta que já existem estudos preliminares sobre a eficácia da magnetoconvulsoterapia, com resultados promissores. “A novidade desta pesquisa é a comparação com a ECT, que é o tratamento mais utilizado atualmente em casos de depressão grave”, ressalta. No Canadá, um trabalho com 23 pacientes conseguiu reduzir em 44,4% a intenção de suicídio. Outra pesquisa, na Alemanha, com dez pacientes, mostrou que o tratamento pode diminuir a perda de memória.
Para que a técnica esteja disponível para a população em geral, Brunoni explica que, além da pesquisa comprovar sua eficácia, será necessária a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O equipamento de magnetoconvulsoterapia foi disponibilizado ao IPq para pesquisas por meio de parceria com a empresa dinamarquesa MagVenture. A pesquisa receberá o apoio de um projeto temático da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Fonte: Jornal da USP