Treinamento de equilíbrio pode minimizar sintoma do Parkinson e risco de quedas

Pesquisa testou dois métodos de treinamento com pacientes de Parkinson e constatou melhora no congelamento de marcha, que é a perda repentina na capacidade de locomoção.

Retirado do: Jornal da USP

Escrito Por: Estagiário sob supervisão de Simone Gomes

Um dos sintomas ocasionados pela Doença de Parkinson é o chamado congelamento de marcha, que faz com que os indivíduos percam, de maneira repentina e temporária, a capacidade de mover as pernas para se locomover, tornando-os mais suscetíveis a quedas. Uma das principais maneiras de minimizar o sintoma é por meio de  medicamentos, mas estudos realizados pelo Laboratório de Sistemas Motores Humanos da Escola de Educação e Esporte (EEFE) da USP mostraram que o treinamento por meio de perturbações do equilíbrio corporal pode ser um grande aliado do tratamento.

Uma pesquisa conduzida por Caroline Ribeiro de Souza, com orientação do professor Luis Augusto Teixeira, testou dois métodos de treinamento em portadores da doença de Parkinson acometidos pelo congelamento de marcha. Ao final do estudo, os participantes notaram uma redução na ocorrência do sintoma e maior controle do equilíbrio, o que ajudou a diminuir o risco de quedas.

Treinamento de equilíbrio X resistência muscular

A pesquisa teve participação de 19 voluntários, pacientes do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). A seleção foi feita seguindo alguns critérios, como não possuir distúrbios além daqueles oriundos da doença de Parkinson e nem ter alteração na dosagem do medicamento utilizado para tratar a doença durante a realização do estudo.

Os participantes foram divididos em dois grupos. No primeiro, com nove pessoas, foi realizado treinamento de equilíbrio baseado em perturbações. Este treinamento foi realizado por meio de uma plataforma móvel que se deslocava da esquerda para direita (movimento de translação) e inclinava-se (movimento de rotação). Os participantes realizaram os exercícios em posições que direcionaram a perturbação para o eixo anteroposterior (região anterior e posterior do corpo) e mediolateral (do centro do corpo para esquerda ou direita, na horizontal).

As perturbações eram realizadas em oito blocos com 16 movimentos diferentes cada, tendo a dificuldade aumentado progressivamente a cada sessão. Os participantes experimentaram 128 movimentos na plataforma por sessão, totalizando 1.024 ao final do estudo.

Para o segundo grupo, foi aplicado um protocolo de treinamento de resistência muscular. O treinamento de resistência foi feito com exercícios realizados em máquinas de força, como supino torácico, remador, peck deck, extensão de pernas, leg press e flexão plantar na máquina leg press, com o objetivo de trabalhar os músculos dos membros superiores e inferiores.

A prática dos exercícios tanto de equilíbrio quanto de resistência foi oferecida duas vezes por semana, durante um mês, e cada sessão durava 55 minutos, envolvendo cinco minutos de caminhada, quarenta do treinamento específico – equilíbrio ou resistência – e dez minutos de relaxamento.

Menores chances de queda

Em momentos de instabilidade, o corpo realiza movimentos compensatórios para manter o equilíbrio e evitar uma possível queda. Um dos principais objetivos do estudo era analisar como esse mecanismo seria utilizado pelos voluntários dos dois grupos em resposta às perturbações.

Para isso, os pesquisadores examinaram os movimentos feitos pelos participantes durante testes feitos com a plataforma, aplicados aos dois grupos. Eles foram realizados antes do treinamento, 24 horas após o fim e, também, 30 dias depois. Os movimentos foram classificados de acordo com categorias pré-estabelecidas, ilustradas abaixo.

Os resultados constataram que tanto o treinamento de equilíbrio baseado em perturbação quanto o treinamento de resistência parecem ter reduzido a ocorrência do congelamento de marcha. Contudo, os voluntários que fizeram o treinamento de equilíbrio mostraram o uso de movimentos mais estáveis como resposta às perturbações e uma redução expressiva de situações com quase-queda quando comparado ao de resistência, tendo mantido esse desempenho mesmo após um mês sem fazer os exercícios.

A pesquisa mostra a importância de pensar a prática motora, principalmente o treinamento baseado em perturbações do equilíbrio corporal, como uma forma de terapia que pode melhorar a condição de indivíduos com a doença de Parkinson.

“A persistência dos ganhos do treinamento por perturbações mostra que essa pode ser uma opção eficiente como recurso terapêutico para a prevenção de quedas no cotidiano. Outro ponto que vale destacar é o uso da análise dos movimentos compensatórios para realizar a avaliação da estabilidade postural, pois trata-se de um método fácil de ser aplicado, inclusive na prática clínica”, explicou a pesquisadora Carolina Ribeiro de Souza.

O estudo contou com a participação de Júlia Ávila de Oliveira, Patricia Sayuri Takazono, Lucas da Silva Rezende, Carla Silva-Batista e Daniel Boari Coelho. Intitulado Perturbation-based balance training leads to improved reactive postural responses in individuals with Parkinson’s disease and freezing of gait, a pesquisa foi publicada no periódico European Journal of Neuroscience e pode ser acessada por meio do link: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/ejn.16039

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