O outubro rosa e as mulheres com deficiência: inclusão para quem?

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama é  considerado um grave problema de saúde pública, pois é o que mais acomete as mulheres no Brasil (exceto para os casos de câncer de pele não melanoma). De acordo com o INCA, as estimativas de câncer de mamas no Brasil, para o ano de 2023 são de 625 mil novos casos.1

Com intuito de reduzir a morbidade e mortalidade, têm-se adotado estratégias de diagnóstico precoce e de rastreamento da doença. Porém, para que essas medidas sejam eficazes, faz-se necessário o acesso ao diagnóstico e ao rastreamento precoce, sobretudo nas mulheres com deficiência. Outro ponto importante é conhecer os fatores de risco da doença, pois existem dois grupos para o câncer de mama:

  1. Fatores de risco não-modificáveis: histórico familiar, menopausa tardia (acima de 50 anos),ausência de gestação, primeira gravidez depois dos 30 anos e envelhecimento.
  2. Fatores de risco modificáveis: tabagismo, consumo de álcool, excesso de peso e sedentarismo.1,2

Atualmente o Ministério da Saúde do Brasil preconiza o exame clínico das mamas, em mulheres saudáveis, sem sinais e sintomas nas mamas, (realizado por enfermeiro ou médico para o diagnóstico diferencial de lesões palpáveis, que é um complemento essencial na investigação diagnóstica de doenças mamárias) e o exame da mamografia como padrão ouro para rastreamento do câncer de mama. A periodicidade dos exames1-3 é apresentada na Figura 1:

Fonte: INCA, 2020

A mamografia funciona como uma espécie de raio X das mamas e para realizá-lo a mulher deve ficar de pé e com as mamas descobertas para que o mamógrafo possa comprimir uma de cada vez. Desta maneira, convidamos vocês para uma breve reflexão: como as mulheres com deficiência motora (e aqui podemos citar por exemplo a paraplegia e a tetraplegia) conseguem fazer a mamografia? A resposta é breve, caros leitores: na prática é quase impossível, porque essas mulheres ainda permanecem invisíveis em muitas campanhas de promoção a saúde no contexto da saúde brasileira.

Se levarmos em consideração as 8 milhões de brasileiras com deficiência física (de acordo com o último Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE… atualmente os números devem ser muito maiores) os obstáculos de peregrinação da mulher com deficiência para acesso aos serviços de saúde, sobretudo os ginecológicos e obstétricos serão muitos.4

Um estudo de revisão, realizado em 2019, identificou como são realizados o rastreamento de câncer em mulheres  com  deficiência e pasmem… são inúmeros: problemas  com  a  estrutura física do local (salas e maquinários com pouca ou nenhuma adaptação), atitudes inconvenientes dos profissionais (falas e posturas inadequadas) e falta de conhecimento das mulheres (acarretando dor, desconforto e sentimentos de vergonha).5

Neste sentido, para a garantir acesso ao diagnóstico e ao tratamento, foi criada a Lei Nº 13.362/2016, que garante às mulheres com deficiência as condições adequadas para prevenir e tratar o câncer de colo e de mama, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).6  A Lei está em vigência há quatro anos e o desafio para inclusão e acesso da mulher com deficiência aos métodos de rastreamento e tratamento continuam presentes em muitas cidades do país.

Portanto, a mensagem que gostaríamos de levar até você vai além da conscientização sobre prevenção do câncer de mama, afinal mamógrafos, macas e salas adaptadas para mulher com deficiência nós sabemos que existem, mas para quem? Afinal, incluir é um direito e um dever de todos.

Autores:

Profa. Dra. Geyslane Pereira Melo de Albuquerque – Universidade de Pernambuco (UPE). Lattes: http://lattes.cnpq.br/4014711467514511

Profa. Dra. Fabiana Faleiros – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP). Lattes:  http://lattes.cnpq.br/8991651738080247

Prof. Dr. Jonas Carvalho e Silva – TU Dortmund. Lattes: http://lattes.cnpq.br/9382335692312792

Prof. Dr. Cristoph Käppler – TU Dortmund. Lattes: http://lattes.cnpq.br/9874801656623250

2 thoughts on “O outubro rosa e as mulheres com deficiência: inclusão para quem?

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