Todo o conhecimento científico, tecnológico e cultural produzido na universidade é um patrimônio à disposição da sociedade. Mas parte dessa produção, para chegar às pessoas, precisa ser transformada em tecnologias, em produtos aplicáveis para melhorias de processos, para industrialização, serviços. E para isso ocorrer, centros de pesquisa realizam parcerias com empresas, que adquirem o direito de produzir em larga escala e comercializar essas soluções. Em linhas gerais, esse é o processo que define a inovação: desenvolver um produto (bem/serviço) novo ou significativamente melhorado, ou criar novos processos e métodos de melhorias.
O acesso à produção industrial e intelectual da universidade pode ser obtido através da aquisição de patentes, marcas, direitos autorais de livros, softwares, músicas, entre outras criações. Na USP, quem coordena essa intermediação e fornece apoio aos pesquisadores, alunos e funcionários em relação ao setor produtivo é a Agência USP de Inovação (Auspin).
Marcos Martins, coordenador da agência, argumenta que a inovação no ambiente acadêmico pode ser gerada a partir de uma pesquisa ou ideia de um docente que deseja produzir mais do que artigos e papers. “Isso não é conflito de interesse; pelo contrário. E deve ser estimulado, não punido”.
A interação entre os setores públicos produtores de conhecimento, como universidades e institutos de pesquisas, e o setor privado está delimitada no Decreto nº 9.283/2018, que regulamenta o Novo Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação (Lei nº 13.243/2016), a partir da Lei nº 10.973/2004 e da Emenda Constitucional no. 85/2015.7
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Mais do que buscar parcerias com empresas, a USP tem atuado para estimular o empreendedorismo na sua própria comunidade acadêmica. Ou seja, incentivar os pesquisadores a transformarem suas soluções inovadoras em negócios. A Universidade sedia dois parques tecnológicos, um em São Paulo (Cietec) e outro em Ribeirão Preto (Supera), além de incubadoras e aceleradoras de empresas.
Os parques foram criados para promover ciência, tecnologia e inovação. Eles oferecem infraestrutura e suporte para empresas de bases tecnológicas. Já as incubadoras procuram encurtar as etapas que compõem o caminho do empreendedor, desde o surgimento da ideia inicial até o sucesso do empreendimento. Os ajustes e correções são feitos antes que o produto ou serviço chegue ao mercado.
As iniciativas podem ser conferidas no portal Solus da Auspin, que reúne iniciativas, projetos, empresas e cursos para facilitar a conexão entre academia e empresas.
Pós-doutorado em Inovação
O InovaUSP, Centro de Pesquisa e Inovação da USP, e o Instituto de Estudos Avançados acabam de criar um programa de pós-doutorado em Inovação. O objetivo é capacitar estudantes da pós-graduação a identificarem oportunidades de desenvolvimento de suas pesquisas e ideias em grande escala. O programa está em fase final de elaboração e estará disponível ainda este ano, após deliberação da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da USP.
O novo pós-doutorado pretende contribuir com o desenvolvimento de pesquisas de excelência científica e tecnológica, visando à geração de produtos e soluções inovadoras. De acordo com Renato Freire, docente do Instituto de Química da USP e um dos organizadores do programa, “espera-se gerar aplicações e soluções novas ou significativamente melhoradas, através da combinação de conhecimentos multi e transdisciplinares, que se convertam em produtos, processos ou serviços e viabilizem a transferência de resultados para a sociedade”. Ele conta que os pesquisadores poderão desenvolver projetos em um ambiente que facilite múltiplas conexões acadêmicas e profissionais.
Para facilitar esses processos, os estudantes interessados contam com a estrutura do InovaUSP, que já integra projetos e parceiros em um ambiente multidisciplinar e com vínculos diretos aos setores produtivos.
Aprender a empreender
Ensino, pesquisa e extensão são os pilares que sustentam o funcionamento do sistema de educação pública superior no Brasil. Junto da autonomia, esses conceitos estão definidos na Constituição Federal e, no caso da USP, foram reforçados no decreto de sua criação. “Mas faltava o quarto pé: o da inovação”, analisa Catalani. Para ele, a criação de um centro como o InovaUSP é importante para sinalizar a preocupação da Universidade em continuar impulsionando o empreendedorismo no ambiente acadêmico. Esse propósito foi formalizado em 2019, quando a Agência USP de Inovação – órgão regulador das políticas de inovação da USP – foi designada como um Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT). Os NITs são estruturas previstas em lei que incentivam a inovação e a pesquisa para desenvolvimento tecnológico e do sistema produtivo nacional.
Com o InovaUSP, não apenas a gestão e o controle do ensino em empreendedorismo ganharam força, mas a preocupação com as empresas nascentes. “Não seremos incubadoras, mas aqueles que preparam a empresa para uma incubadora, que pode ser da USP ou não”, diz Catalani, e lembra que o centro também prevê o apoio a alunos e pesquisadores que tenham interesse em criar uma startup. “Parecíamos fragilizados por não ter uma estrutura definida, mas não somos frágeis; somos a universidade mais empreendedora do País”, reforça.
Economia do Conhecimento
“Inovação sempre foi o patinho feio na Universidade, mas isso vem mudando. Não só pela ausência de perspectiva de emprego, que se acentuou com a crise econômica, mas há uma mudança de cultura que tem feito os alunos se interessarem por empreender, mais do que antes”, destaca Martins, coordenador da Auspin. Além de responsável pela gestão da propriedade intelectual e pela transferência de tecnologia, o coordenador afirma que a agência planeja criar polos do InovaUSP em cada um dos campi da USP espalhados pelo Estado, para ampliar as oportunidades de uso da inovação. E não somente para alunos.
Fonte: Jornal da USP