Desde iniciada a pandemia do novo coronavírus, diversos estudos apontaram para o risco de infecção por partículas menores pelo ar (aerossóis). Para endossarem o alerta, 239 cientistas de 32 países – incluindo Brasil, assinam carta aberta publicada na revista científica Clinical Infectious Diseases, na segunda-feira, dia 6. O objetivo era fazer a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerar os riscos de infecção pelas micropartículas, revendo suas recomendações para prevenção do contágio pelo vírus. Após vários estudos publicados, nesta semana, um dia após cobranças dos cientistas, a organização reconheceu que é necessário rever algumas de suas medidas.
Para falar sobre o assunto, o Jornal da USP no Ar conversou com Max Igor Banks, médico coordenador do Ambulatório de Infectologia do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Ele começa explicando a diferenciação básica de doenças de transmissão respiratória. “Costumamos dividir a partir de transmissão por gotículas e outras por aerossóis. Qual a diferença? A primeira é o tamanho da gotícula, que são maiores e não conseguem ficar em suspensão no ar. A outra é a transmissão por aerossóis, com a suspensão do vírus no ar”, explica Banks.
Basicamente, a covid-19 já possui algumas formas de prevenção determinadas, como o distanciamento social e o uso de máscaras. Banks salienta que essas medidas estão sendo efetivas e acredita que a discussão agora seja sobre como ser mais eficiente na diminuição dos riscos de contaminação. Apesar de haver questionamentos quanto ao uso obrigatório de máscaras, ele reforça que a lógica do uso de máscaras é para proteger a si mesmo e ao próximo. “Não sabemos quem está infectado [assintomático ou com sintomas leves] na população enorme que temos.”
Escute a entrevista completa com o doutor Max Igor Banks no link a seguir: https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2020/07/TRANSMISSAO-AEROSSOIS-COVID_MAX-IGOR-BANKES_ROXANE.mp3
Paulo Saldiva, médico patologista e professor da Faculdade de Medicina (FMUSP) da USP, que assinou a carta aberta à OMS, explica que, em ambientes poluídos, tais como São Paulo, as partículas se acumulam e ficam suspensas por horas na atmosfera, principalmente as mais finas. “Partículas abaixo de 2,5 ou 2 micrômetros são muito leves e ficam flutuando por horas se o vento não as levar para longe. Em 2 micrômetros cabem dezenas de vírus, porque o vírus tem menos de 100 nanômetros”, pontua Saldiva.
O professor cita dois estudos importantes sobre o assunto: um que está sendo conduzido pela Universidade de Harvard e outro na USP, pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG). O de Harvard mostra que as cidades com mais poluição têm mais contagiosidade pelo coronavírus; já a pesquisa feita pelo IAG, que conta com dados sobre as cidades norte-americanas, demonstra que as variações de poluição dentro da cidade estão associadas com variações de infecção pelo coronavírus.
Dessa forma, além de servir como uma mensagem de aviso para a OMS, a cobrança também funciona como manifesto e alerta para que todas as pessoas tenham conhecimento sobre os riscos de infecção por aerossóis e para não baixarem a guarda da proteção individual. O reconhecimento da OMS em rever esse assunto demonstra a importância dessa carta aberta, ainda mais em tempos em que governos começam a afrouxar questões envolvendo o distanciamento social, comércios são reabertos e funcionários se expõem a espaços confinados.
Ouça a entrevista com o professor Paulo Saldiva na íntegra no link a seguir: https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2020/07/TRANSMISSAO-AEROSSOIS-CIENTISTAS_PAULO-SALDIVA_ROXANE.mp3
Fonte: Jornal da USP