Suicídio: Vamos falar sobre prevenção

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a terceira causa de mortalidade no mundo. No ano de 2012 foram cerca de 804.000 mortes por suicídio no mundo.

A cada 40 segundos uma pessoa tira a própria vida, sendo as tentativas cerca de 10 vezes maiores que uma morte por suicídio. Os jovens estão entre os mais afetados por esse problema, pois se constitui como a segunda causa de morte para pessoas com idade entre 15- 29 anos.

Estudos nacionais apresentam crescimento de 35,3% na taxa de mortalidade por suicídio entre jovens de 15 a 24 anos em suas principais capitais. (SOUZA, MINAYO, 2002).

Assim, o suicídio se configura como um grave problema de saúde pública, pois o suicídio tolhe uma vida produtiva e tem relevante impacto social, cultural e econômico. (OMS, 2014)

Falar sobre suicídio ainda é tabu na sociedade, mesmo com o crescimento das taxas de mortalidade em decorrência do suicídio, o luto enfrentado pelas pessoas próximas de alguém que cometeu suicídio torna difícil o diálogo sobre um assunto tão importante e rodeado de estigmas.

Falar sobre suicídio de forma responsável auxilia na compreensão do comportamento e na redução dos estigmas que o circundam, tendo efeito benéfico na sua prevenção, na busca precoce por ajuda e no cuidado capacitado e humanizado às pessoas que estão passando por este problema.

Para compreender a magnitude desse cenário e a importância de conversar sobre o assunto, é necessário apreender alguns conceitos importantes. O termo suicídio vem da junção dos termos sui (si mesmo) e caederes (ação de matar), ou seja, suicídio é o ato intencional de tirar a própria vida.

Entretanto, o suicídio se dá através de um continuum, dessa forma temos a ideação suicida, que são pensamentos de querer tirar a própria vida. O plano suicida se dá quando o indivíduo elabora como tirar a própria vida; a tentativa suicida, quando a pessoa atenta contra a própria vida e sobrevive; e o suicídio, que é a morte em decorrência do ato de tirar a própria vida. A importância de conhecer esses conceitos está diretamente ligada com a prevenção do comportamento suicida.

É importante entender que quem pensa em suicídio não quer necessariamente morrer, mas sim colocar fim numa dor imensurável. Dessa forma desqualificar a dor de alguém que pensa em suicídio não é uma forma de ajudar. As pessoas percebem e sentem as nuances da vida de forma diferente.

Assim, tentar equivaler a dor ou compará-la a de alguém ou com outras pessoas que passam por outros problemas não traz auxílio ou benefício na prevenção do suicídio. Cada um sente à sua maneira e é importante legitimar a dor do outro, dar importância para seus problemas e oferecer apoio.

O comportamento suicida é marcado por três características: a ambivalência, impulsividade e a rigidez/constrição de pensamento. A ambivalência está relacionada com o desejo de colocar fim à dor, mas ao mesmo tempo continuar a viver.

Os problemas parecem intermináveis e a única solução palpável seria morrer para fugir desses problemas. A impulsividade se caracteriza pelo ato imediato, sem reflexão, sem pensar nas consequências ou saídas. E a rigidez de pensamento é ficar preso em único pensamento, como se o suicídio fosse a única solução.

Além dessas características, existem quatro sentimentos persistentes na vida de alguém que deseja tirar a própria vida, também conhecidos como 4 D’s: depressão, desesperança, desespero e desamparo.

Sabe-se que os maiores mitos sobre o comportamento suicida são que “quem fala que quer se matar, não se mata” e que “conversar sobre suicídio induz a pessoa a querer tirar a própria vida”. O comportamento suicida pode ser expresso através da comunicação suicida, dada pela própria comunicação verbal ou atitudinal (separar bens materiais, pagar dívidas, organizar, por exemplo).

Atualmente também se percebe o aumento da comunicação suicida através das redes sociais virtuais, podendo operar como importante ferramenta na prevenção. Dessa forma, quando alguém esboça o desejo de tirar a própria vida, é necessário legitimar sua dor e valorizar sua comunicação como pedido de ajuda. Além disso perguntar ou conversar sobre suicídio de forma responsável pode auxiliá-la no processo por busca de ajuda.

Estudo realizado na área urbana do município de Campinas (São Paulo), mostra que ao longo da vida 17,1% das pessoas já pensaram seriamente em suicídio, 4,8% chegaram a elaborar um plano suicida, 2,8% tentaram efetivamente o suicídio e somente um terço das tentativas chegaram a ser atendidas em serviços de urgência. (Figura 1) Esse estudo evidencia a importância de se trabalhar a prevenção do suicídio precocemente.

De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria tentativas suicidas e transtornos mentais são os principais fatores de risco para o suicídio. Assim, atentar para mudanças de comportamento, para a expressão do desejo de tirar a própria vida, para tentativas suicidas e possíveis transtornos mentais pode ajudar a salvar a vida de alguém próximo.

Figura 1: Prevalências de ideação, planos e tentativas de suicídio em habitantes da área urbana de Campinas, SUPRE-MISS (OMS, 2003).

Atualmente trabalha-se a identificação de fatores de risco e fatores de proteção para a prevenção do comportamento suicida. Também há os tipos de prevenção (universal, preventiva e indicada) dependendo de cada público a se trabalhar. E é imprescindível estratégias nacionais e locais de apoio de diversas instâncias para um bom trabalho na prevenção do comportamento suicida.

Estes são temas para uma próxima conversa, por agora é possível compreender que o suicídio é um grave problema de saúde pública, que precisa ser tratado de forma ampla e com respeito e, principalmente, os estigmas que cerceiam o suicídio e a legitimar a dor do próximo devem ser abandonados e em seu lugar o apoio adequado precisa ser oferecido.

SAIBA MAIS

  1. World Health Organization. Preventing suicide Preventing suicide. 2014;
  2. World Health Organization (WHO). Preventing Suicide: a resource for counsellors. Geneva: World Health Organization; 2006.
  3. Emergency Nurses Association. Clinical Practice Guideline: Suicide Risk Assessment. Full Version. 2012.
  4. Registered Nurses’ Association of Ontario. Assessment and Care of Adults at Risk for Suicidal Ideation and Behaviour. 2009;(January):1–122.
  5. Ministério da Saúde. Prevenção do Suicídio Manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental. Univ Estadual Campinas [Internet]. 2006;76. Available from: https:// www.cvv.org.br/wp-content/uploads/2017/05/ manual_prevencao_suicidio_profissionais_ saude.pdf
  6. Botega, N.J. et al. Prevenção do comportamento suicida. PSICO, Porto Alegre, PUCRS, v. 37, n. 3, pp. 213-220, set./dez. 2006

Autores: Aline Conceição Silva: (http://lattes.cnpq.br/4440794322404845) Graduada em Bacharelado em Enfermagem pela Universidade Federal de São João Del Rei, Campus Centro Oeste Dona Lindu. Mestre pelo Programa de Pós-graduação Mestrado Acadêmico em Enfermagem, na linha de pesquisa de Saúde Mental na Universidade Federal de São João del Rei. Doutoranda pelo Programa de Pós-graduação em Enfermagem Psiquiátrica da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Membro fundador da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio – ABEPS. Membro do Teia Vita – Grupo de Trabalho de Valorização da Vida e Suicidologia – Universidade Federal de São João del Rei. Membro do Centro de Educação em Prevenção e Posvenção do Suicídio (CEPS), Universidade de São Paulo.

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