Osteoporose em pessoas com LM

A osteoporose em pessoas com lesão medular é um importante problema de  saúde capaz de gerar um risco aumentado de fraturas com consequentes complicações e não deve ser negligenciado.

A osteoporose após a lesão medular pode ser definida como a reabsorção óssea excessiva gerando fragilidade óssea e consequentes fraturas. A perda de massa óssea evolui em torno de 4% ao mês durante o primeiro ano após a lesão medular, inclusive, estudos mais recentes sugerem que a perda óssea pode se estender por 3 a 8 anos até se estabilizar. A desmineralização pode chegar à 28% no quadril, 37-52% no fêmur e 36-70% da tíbia proximal.

As fraturas por fragilidade óssea podem ocorrer em 25-46 % dos pacientes com lesão medular ao longo da vida. Os locais fraturados mais comuns são o fêmur proximal (quadril), fêmur distal e tíbia proximal (joelho) em pacientes restritos à cadeira de rodas e a tíbia distal (tornozelo), principalmente em indivíduos com lesão medular e que apresentam marcha independente ou com auxílio.

Essas fraturas estão principalmente relacionadas às quedas, seja da própria altura ou da cadeira de rodas, forças torcionais durante transferências ou mobilizações passivas. As fraturas nessa população estão associadas à complicações como úlceras de pressão, deformidades, piora do desempenho as atividades de vida diária e para marcha em paciente deambuladores.

Além da osteoporose associada à própria lesão medular, outros fatores associados contribuem para a perda mineral óssea, como a deficiência de vitamina D3, descrita em até 1/3 dos pacientes, uso de anticonvulsivantes e psicotrópicos,  medicamentos comumente usados para dores neuropáticas e o uso de protetores de mucosa gástrica, como omeprazol, que diminuem a absorção de cálcio, todos esses são fatores que influenciam a perda mineral óssea.

O risco de fratura após a lesão medular é diferente do risco de osteoporose, um exemplo disso é que os pacientes tetraplégicos apresentam maior osteoporose que os paraplégicos, contudo os pacientes com paraplegia fraturam em uma frequência maior devido à exposição aos riscos.

Considerando esses aspectos, diversos autores têm descritos fatores associados ao maior risco de fraturas por fragilidade óssea, como: lesão medular completa, ser do sexo feminino, ter idade superior a 40 ou menor que 16 anos na época da lesão medular, o tempo de lesão medular ser maior que 3 anos, consumir mais de três porções de café por dia, tabagismo, possuir histórico familiar de fraturas por osteoporose, ser abaixo do peso, ingerir bebidas alcoólicas e usar de corticosteroides.

Estudos científicos sugerem que a atividade de ficar em pé e o treino de marcha mostram efeito protetor para diminuir a perda de massa óssea em indivíduos com lesão medular espinhal traumática. Contudo, ainda não existe um protocolo para o diagnóstico e tratamento da osteoporose em pacientes com lesão medular, assim como critérios da densitometria óssea específicos para essa população.

Enfim, fraturas por fragilidade óssea são complicações graves na população com lesão medular, podem levar à hospitalização, acarretam piora no desempenho em atividades diárias na vida e também na capacidade para marcha.

O conhecimento sobre a osteoporose em lesão medular é escasso e não existe ainda uma diretriz específica para essa população, o que dificulta a prevenção destas fraturas. Entender melhor o perfil dos indivíduos com maior risco pode ajudar a reconhecer os fatores associados a fim de serem estabelecidos programas de prevenção, orientação especializada e tratamento adequado aos mesmos.

Referências

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