Recuperados de covid-19 não apresentam sequelas na visão, aponta estudo

Recuperar-se da fase aguda da covid-19 é motivo de comemoração, mas pesquisas apontam que a batalha não acaba mesmo após a alta. Os recuperados ainda correm o risco de terem sintomas persistentes como falta de ar, dor de cabeça, perda da força muscular e até fadiga. A ciência ainda questiona possíveis sequelas oftalmológicas, mas pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP adiantam que, ao analisar exames de 64 pacientes recuperados de covid-19, não encontraram sequelas nos olhos.

O estudo Ocular findings among patients surviving COVID-19 acaba de ser publicado pela revista Nature Scientific Reports, e traz a  avaliação oftalmológica completa de pacientes recuperados cerca de 80 dias após os primeiros sintomas. Todos os pacientes foram acompanhados pelos hospitais do Complexo Acadêmico de Saúde da FMRP, do Hospital das Clínicas da FMRP (HCFMRP) e da Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência do HCFMRP (Faepa), com média de internação de 15 dias, sendo que 90% deles apresentavam quadro clínico grave ou crítico. Os participantes passaram por avaliações que incluíram a visão, a superfície ocular e a pressão intraocular e foi observado também o fundo de olho para avaliar a arquitetura da retina, por exemplo.

“Recuperados de covid-19 que tiverem queixas oculares, como dor ou visão dupla, antes ou durante a infecção, devem procurar um oftalmologista para avaliação completa. Uma investigação de rotina no consultório médico pode auxiliar na detecção de problemas ou doenças oculares”, aponta a médica Rosália Antunes Foschini.

Rosália Antunes Foschini, médica do HCFMRP – Foto: Arquivo pessoal

“Detectamos que os recuperados apresentavam boa acuidade visual e a maior parte das queixas relacionadas à visão embaçada foi solucionada com prescrição de óculos. Foi percebido um leve aumento da pressão intraocular, abrindo espaço para a hipótese de ser consequência do uso de corticoides e estudos devem ser feitos para comprovar a causa. Em relação à catarata, dois participantes apresentaram, mas era um diagnóstico anterior à covid-19”, conta a médica Rosália Antunes Foschini, do HCFMRP e coordenadora do trabalho.

Os resultados também são positivos em relação à retina, que é o tecido responsável por receber o estímulo luminoso e transformá-lo em estímulo nervoso para enviar a formação de imagens ao cérebro. “Em nosso estudo foram encontradas alterações discretas, mas há relatos de casos graves envolvendo pacientes que tiveram a doença. Por isso, é preciso continuar atento para o aparecimento do embaçamento visual e novos estudos devem ser feitos para concluir quais são as sequelas oftalmológicas”, afirma o professor Rodrigo Jorge, da FMRP e coautor do trabalho.

Professor Rodrigo Jorge, da FMRP – Foto: Divulgação

A médica Rosália recomenda ainda que recuperados de covid-19 que tiverem queixas oculares, como dor ou visão dupla, antes ou durante a infecção, devem procurar um oftalmologista para avaliação completa. “Uma investigação de rotina no consultório médico pode auxiliar na detecção de problemas ou doenças oculares”, completa.

O estudo, que faz parte do projeto Recovida, contou também com autoria dos professores Fernando Bellissimo Rodrigues, Eduardo Melani Rocha, Valdes Roberto Bollela; da médica Ílen Ferreira Costa e da fisioterapeuta Livia Pimenta Bonifácio, todos da FMRP.

Investigação das sequelas de covid-19

Fernando Bellissimo Rodrigues, do Departamento de Medicina Social da FMRP – Foto: Divulgação FMRP/USP

O artigo integra diversos estudos do projeto Recovida, que acompanha sobreviventes da covid-19 nas formas leves e graves desde maio de 2020. “É uma doença nova e a história natural está sendo descrita para saber com o que estamos lidando. Existe um conceito na área de reabilitação que quanto mais precoce for uma intervenção para reabilitar, maiores são as chances de bons resultados para os pacientes. Estamos estudando para avaliar se isso também é verdadeiro para a covid-19”, conta o professor Fernando Bellissimo Rodrigues, da FMRP e coordenador do Recovida.

Para o médico infectologista, os estudos poderão auxiliar na busca por medidas preventivas para sequelas. Por exemplo, se os pacientes apresentam dificuldades de mobilidade devido aos dias internados pela doença, será possível fazer estudos para entender o que favoreceu essa sequela e buscar novas formas de solucionar essa questão.

Além disso, o especialista destaca que não é preciso fazer uma investigação em todos os recuperados de covid-19. “Não existe a necessidade de rastrear sequelas se a pessoa estiver se sentindo bem, após a covid-19. Quando há problemas, eles são bem evidentes”, conta.

Mais informações: e-mail antunesfoschini@gmail.com com a médica Rosália Antunes Foschini

Fonte: Jornal da USP

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