O Cenário Brasileiro da Reabilitação para Pessoas Pós-Acidente Vascular Cerebral (AVC)

Texto escrito por: Nicole Palladino Silva (http://lattes.cnpq.br/3943720515181694)

O Acidente Vascular Cerebral (AVC), conhecido popularmente por derrame, é a segunda maior causa de morte no mundo e a principal causa de incapacidade. São divididos em dois subtipos: o AVC isquêmico, isto é, quando há falta de oxigênio por obstrução (através de coágulos, placas de gorduras e trombos) de um vaso sanguíneo; e o AVC hemorrágico, sendo esse mais raro, acontece devido ao rompimento do vaso, causando intenso dano ao sistema nervoso central.

Figura 1 – Exemplo do AVC isquêmico e Hemorrágico

Fonte: Sociedade Brasileira de AVC

O AVC pode acontecer a qualquer momento e em qualquer lugar, portanto, saber os sinais e sintomas é imprescindível para ir ao atendimento de urgência precocemente e, consequentemente, diminuir as possíveis sequelas, uma vez que a doença é tempo-dependente. Fraqueza em um lado do corpo e cefaleia intensa são alguns dos principais sinais e sintomas, além disso, dificuldades para falar, entender, enxergar (com um ou os dois olhos) e andar podem acontecer.

Embora existam tratamentos para o AVC, como: a trombólise química, medicamento injetado para dissolver o trombo/coágulo; e a trombectomia mecânica, que consiste na retirada por meio de um catéter do trombo, nem sempre é possível garantir a ausência de sequelas. Sendo assim, o AVC pode trazer prejuízos motores, sensoriais, cognitivos, emocionais e também familiares, sendo que a demora para iniciar o tratamento é o fator principal que corrobora para a diminuição da autonomia da pessoa no pós-AVC.

Caso ocorra um desfecho em que há a perda das capacidades supracitadas, torna-se necessário um acompanhamento multiprofissional dessa pessoa após sua saída do hospital, sobretudo da fisioterapia, uma vez que o acometimento motor é a principal condição no pós-AVC, todavia, muitas vezes, esse acompanhamento não acontece, pois não está no alcance das pessoas, visto que é necessário meios financeiros e de transporte para isso.

Para melhorar esse cenário, o Brasil em 2012 publicou uma portaria que regulamenta a linha de cuidado do AVC, buscando trazer um cuidado integral às pessoas que passaram por essa situação. Contudo, nota-se uma lacuna entre as políticas e a reabilitação das pessoas que sofreram AVC, sendo que esse é o principal serviço que atualmente impede a efetividade de um dos princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde, a integralidade.

Ademais, torna-se importante destacar que a forma como a pessoa enfrenta o pós-AVC é singular, ou seja, cada um tem sua forma de agir e também pensar, sendo que esses aspectos influenciam no processo de reabilitação. Portanto, os profissionais da área da saúde, assim como os familiares, são importantes incentivadores na recuperação do indivíduo, percebe-se, dessa forma, que o cuidado com essas pessoas deve ser contínuo e integral.

Devido à perda de algumas funções e a ida para o domicílio, muitos cuidados são realizados pela família, dessa maneira, cabe aos profissionais da saúde garantirem orientações e também condições para que isso seja feito de forma adequada, esse processo deve ser feito principalmente durante a alta. Além disso, muitas vezes, as pessoas que sofreram o AVC tem indicação para acompanhamento com o neurologista, cardiologista e fisioterapeuta, todavia, o encaminhamento durante a alta acaba sendo apenas uma “recomendação”, então, isso diminui a quantidade de pessoas na reabilitação do AVC.

Em relação aos estudos na reabilitação de pessoas acometidas pelo AVC, observa-se poucos materiais a respeito do tema, principalmente devido à maior concentração de pesquisas antes e durante o acontecimento do AVC. Entretanto, o itinerário da Reabilitação de pacientes que sofreram AVC demonstra inúmeros obstáculos vividos por essas pessoas, sobretudo quando se trata de acessibilidade ao serviço de saúde após o AVC.

Referências:
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Departamento de atenção especializada. Manual de rotinas para atenção ao AVC/Ministério da Saúde. Brasília. Ministério da Saúde, 2013.

Girardon-Perlini N.M.O; Faro A.C.M. Cuidar de pessoa incapacitada por acidente vascular cerebral no domicílio: o fazer do cuidador familiar. Rev Esc Enferm USP. 2005. doi: 10.1590/S0080-62342005000200005.

Souza, A. M. L. B. de.; Meneghin, M. C.; Leme, P. A. T. Itinerário terapêutico de pacientes pós-acidente vascular cerebral: o estado da arte da produção científica brasileira. Fisioterapia e Pesquisa, 2022.

Spedo S. M; Pinto N.R.S; Tanaka O.Y. O difícil acesso a serviços de média complexidade do SUS: o caso da cidade de São Paulo, Brasil. Physis. 2010. doi: 10.1590/S0103-73312010000300014. https://doi.org/10.1590/S0103-73312010000300014

Leia Mais:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Skip to content