Conheça a história das paraolimpíadas e a importância da prática de esportes para pessoas com deficiência

Escrito por: Lara Maria Borges Polaco ( http://lattes.cnpq.br/6574005256053819 )

Celebrando sua 17° edição, os jogos paralímpicos na capital francesa têm seu início oficial no dia 28 do mesmo mês. A edição paralímpica da França se apresenta como a primeira em que o mascote olímpico é similar, ao dos jogos olímpicos para as delegações típicas, tendo como símbolo de representatividade uma prótese em uma de suas pernas.

Dentre os 185 comitês que estarão presentes nas disputas, o time paralímpico brasileiro se destaca por seu quadro de medalhas marcante, na edição olímpica de Tóquio o Brasil ocupou o sétimo lugar no quadro de medalhas tendo como destaque as categorias do atletismo, natação e o vôlei sentado. 

Com o início deste evento podemos perceber a importância da prática de esportes no dia a dia das pessoas com deficiência, aumentando sua qualidade de vida e manutenção da saúde.

A história do esporte adaptado

Os primeiros registros de adaptações dos esportes para pessoas com necessidades físicas datam de 1944, quando o médico britânico Ludwig Guttmann criou um centro especializado em lesões na coluna para reabilitar veteranos de guerra feridos em combate por meio do esporte. Inicialmente uma prática recreativa auxiliar no programa de recuperação, o aspecto competitivo foi incentivado com pequenas competições entre pacientes. No dia 29 de julho de 1948, durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, Guttmann organizou os Jogos de Stoke Mandeville, a primeira competição oficial para atletas em cadeiras de rodas, com torneio de tiro com arco para militares femininos e masculinos. Eventualmente, Stoke Mandeville estabeleceu a ISMGF (Federação Internacional dos Jogos de Stoke Mandeville).

Com o sucesso dos Jogos de Stoke Mandeville, o primeiro torneio de Jogos Paralímpicos foi realizado em Roma, Itália, em 1960, com 400 inscritos de 23 países. Em 1976, na Suécia, foi disputada a primeira edição dos Jogos Paralímpicos de Inverno. Para estudar os problemas enfrentados por pessoas com deficiência em esportes, a Federação Mundial de Ex-militares criou em 1964 a ISOD (Organização Internacional de Esporte para Deficiêntes), com a missão de expandir a inclusão de deficientes em competições, abrangendo indivíduos com problemas de visão, amputados, paraplégicos e pessoas com paralisia cerebral. A ISOD atuou como comitê coordenador dos Jogos Paralímpicos, e em 1976, atletas cegos e amputados participaram dos Jogos Olímpicos de Toronto, com atletas com paralisia cerebral incluídos em 1980 na Holanda.

Apesar do trabalho da ISOD, outras federações foram fundadas em 1978 e 1980, como a Associação Internacional de Esporte e Recreação para Atletas com Paralisia Cerebral e a Federação Internacional de Esportes para Cegos. Em 1982, essas entidades uniram forças para criar o Comitê Internacional Co-coordenador de Esportes para Deficientes (ICC). Em 1989, foi fundado na Alemanha o Comitê Paralímpico Internacional, uma entidade sem fins lucrativos que se tornou o órgão dirigente do movimento paralímpico global. Desde as Olimpíadas de Seul em 1988 e os Jogos Olímpicos de Inverno de Albertville em 1992, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos são disputados nas mesmas cidades e locais.

O esporte paralímpico no Brasil

O primeiro esporte adaptado no Brasil para cadeirantes foi o basquete, introduzido por pacientes que o conheciam dos EUA. Em 1958, foram fundados o Clube do Otimismo no Rio de Janeiro e o Clube dos Paraplégicos de São Paulo (CPSP), ambos contribuindo para a adaptação e criação de modalidades esportivas como atletismo, bocha, esgrima, halterofilismo, natação e voleibol paralímpico. João Bantim, presidente do CPSP, comentou sobre os desafios iniciais e o preconceito enfrentado, incluindo a falta de apoio financeiro e o voluntariado para organizar competições. Outras entidades importantes foram a Associação Brasileira de Desporto para Cegos (ABDC), a Associação Brasileira de Desporto em Cadeira de Rodas (ABRADECAR) e a Associação Nacional do Desporto para Deficientes (ANDE). Em 1995, foi fundado o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) no Rio de Janeiro, que, sob a liderança de João Batista Carvalho e Silva, conseguiu enviar a primeira delegação brasileira para os Jogos Paralímpicos de Atlanta em 1996, onde o Brasil ficou em 37º lugar no quadro de medalhas.

Porque as pessoas com deficiências devem considerar a prática de esportes ou atividades físicas?

Como um todo, a prática de atividades físicas é conhecida por prevenir doenças crônicas, melhorar a qualidade de vida e manutenção da saúde, liberação de hormônios que regulam funções diversas do organismo e fortalecimento da musculatura, entretanto os benefícios não se limitam ao físico.

“A prática de atividade física por pessoas com deficiência é uma das principais maneiras de integração da sociedade, despertando um sentimento e vontade de melhorar o seu mundo, provando para si mesmo e para a sociedade que são capazes de terem soluções para as suas maiores dificuldades, se tornando mais ativos e alcançando independência na realização de suas atividades cotidianas, crescendo a autoestima, melhorando seus relacionamentos sociais de lazer e com amigos em busca de uma vida mais saudável e digna.” (Ribeiro dos Santos, Valter “Os benefícios da atividade física na vida cotidiana de deficientes físicos”)

Além disso, as possibilidades de adaptação e modalidades que a pessoa com deficiência pode escolher para inserir a atividade física em sua rotina também é ampla, podendo ser criada de maneira personalizada com profissionais da educação física e da fisioterapia.

Como se informar e dar início a inclusão de atividades físicas na rotina dos PCDs

Para incluir atividades físicas na rotina, deficientes podem consultar o Guia de Atividade Física disponível gratuitamente no site do Ministério da Saúde (https://encurtador.com.br/4JXOV), que oferece opções para todas as faixas etárias e dicas para portadores de deficiência. O Comitê Paralímpico Brasileiro também oferece programas como:

Atleta Cidadão: Cria condições para o desenvolvimento esportivo e cidadania de pessoas com deficiência, incluindo orientação e bolsas de estudo.

Programa Militar Paralímpico: Focado em policiais e agentes de segurança, utiliza o esporte para melhorar a qualidade de vida e descobrir talentos.

Centro Paralímpico de Referência: Oferece orientação sobre modalidades paralímpicas em todo o país, em parceria com as Loterias Caixa.

Circuito Escolar Paralímpico: Estimula a participação de estudantes com deficiências em atividades esportivas.

Camping Escolar Paralímpico: Proporciona a jovens atletas a experiência de alto rendimento e participação em competições.

Todos os programas podem ser acessados através do site oficial do comitê, https://cpb.org.br/ na opção “programas” que fica disponível em seu menu.

Atletas para se inspirar

As deficiências não devem ser encaradas como uma barreira para a realização de atividades físicas, por isto podemos observar alguns de nossos medalhistas como uma inspiração para iniciar a jornada no esporte.

Gabriel Bandeira

Estrela da natação, Gabriel conquistou o seu primeiro ouro nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, ele representou a seleção nos 100 metros borboleta e bateu o recorde paralímpico com 52 segundos e 76 centésimos.

Evelyn Oliveira

Recebendo a medalha de ouro na categoria dupla mista BC3 em 2016, a atleta se destaca no bocha, ela iniciou sua carreira aos 22 anos de idade, e foi convidada a ser porta bandeiras da seleção do Brasil nos jogos de Tóquio.

Petrúcio Ferreira

Sendo considerado o “Bolt” paralímpico, Petrúcio é considerado o paratleta mais rápido do mundo batendo o recorde paralímpico já em sua estreia nos 100 metros rasos com 10 segundos e 53 centésimos.

Débora Menezes

Atleta de parataekwondistas com amputação de braço, ela se tornou vice-campeã no esporte na competição internacional às vésperas das olimpíadas em Paris. No início de sua carreira esportiva ela integrava o time de lançamento de dardo, mas mudou para a modalidade do Taekwondo no ano de 2013.

Leia Também:

Referências:

  1. COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO. Camping escolar. Comitê Paralímpico Brasileiro. Disponível em: https://cpb.org.br/programas/camping-escolar/. Acesso em: 20 ago. 2024.
  2. COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO. Centros de referência. Comitê Paralímpico Brasileiro. Disponível em: https://cpb.org.br/programas/centros-de-referencia/. Acesso em: 20 ago. 2024.
  3. COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO. Circuito escolar paralímpico. Comitê Paralímpico Brasileiro. Disponível em: https://cpb.org.br/competicoes/circuito-escolar-paralimpico/. Acesso em: 20 ago. 2024.
  4. COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO. Débora Menezes é vice-campeã em competição internacional de taekwondo paralímpico às vésperas de Paris 2024. Comitê Paralímpico Brasileiro. Disponível em: https://cpb.org.br/noticias/debora-menezes-e-vice-campea-em-competicao-internacional-de-taekwondo-paralimpico-as-vesperas-de-paris-2024/. Acesso em: 13 ago. 2024.
  5. COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO. Delegação. Comitê Paralímpico Brasileiro. Disponível em: https://cpb.org.br/wp-content/uploads/2024/07/delegacao-1024×683.jpg. Acesso em: 13 ago. 2024.
  6. COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO. O Comitê Paralímpico Brasileiro: institucional. Comitê Paralímpico Brasileiro. Disponível em: https://cpb.org.br/o-comite/institucional/. Acesso em: 20 ago. 2024.
  7. CPB. Conheça o programa Atleta Cidadão. Disponível em: https://cpb.org.br/atleta-cidadao/conheca-o-programa/. Acesso em: 13 ago. 2024.
  8. CPB. O Comitê Paralímpico Brasileiro. Disponível em: https://cpb.org.br/o-comite/institucional/. Acesso em: 13 ago. 2024.
  9. GOV.BR. A importância da atividade física para pessoas com deficiência. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-me-exercitar/noticias/2021/a-importancia-da-atividade-fisica-para-pessoas-com-deficiencia#:~:text=Segundo%20o%20Guia%2C%20os%20principais,da%20flexibilidade%20e%20da%20agilidade. Acesso em: 13 ago. 2024.
  10. GOV.BR. Guia de atividade física para a população brasileira. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-me-exercitar/documentos/pdf/guia_atividade_fisica_populacao_brasileira.pdf. Acesso em: 13 ago. 2024.
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  15. JORNAL COMUNICAÇÃO UFPR. Paradesporto no Brasil: do treinamento aos Jogos Paralímpicos. Jornal Comunicação UFPR. Disponível em: https://jornalcomunicacao.ufpr.br/paradesporto-no-brasil-do-treinamento-aos-jogos-paralimpicos/. Acesso em: 20 ago. 2024.
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  17. SCIELO. Avaliação dos aspectos educacionais e culturais do paradesporto. Revista Brasileira de Ciência e Esporte. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbce/a/KVK8XWkSVGyMZLxqXgB8kqH/abstract/?lang=pt. Acesso em: 20 ago. 2024.
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